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Baptista Cepellos

O poeta do drama brasileiro

MANECO É MORTO

Índice

AS VEREDAS DO POETA

O POETA D'ACUTIA

JB ENTREVISTA CEPELLOS

A CIDADANIA E O POETA

TRÁGICA POESIA D'AMOR

BAPTISTA CEPELLOS E COTIA

 

 

O conferencista Francisco Lagreca, falando
sobre Baptista Cepellos, afirmou: ...Foi em
Piracicaba, há não sei bem quantos anos. Uns
vagos rumôres de popularidade já o acompanhavam
no ambiente artístico da época, e eu, de olhos
muito curiosos e admirados, longamente
fitei aquela estranha figura de poeta, de tez muito
branca, olhos azuis e uma esplêndida fisionomia
de saúde e de inteligência (...) Um dos traços
característicos de Cepêlos era o seu desmedido
orgulho de homem que vivia intensamente
a vida vibrátil do espírito (...) Não suportava o
contato com as mediocridades (...) não tinha hora
para escrever...

Assim era Baptista Cepellos, que entre a família era conhecido como Maneco. Nascera em Cotia no dia 10 de Dezembro de 1872, estudou as primeiras letras na vila e na escola rural de Vargem Grande; segundo o estudioso Walter N. da Silva, ele foi até auxiliar-de-mestre nessa escola. Por várias vezes foi intimado pelo delegado de polícia local que não gostava de ver o moço escrevendo poesias na terra, em pleno centro da vila... O poeta, que cantou a vila no poema A Minha Aldeia, parecia granjear não inimizades mas invejas.; mas, nem por isso, quando mais tarde retornou à terrinha como oficial da Força Pública, deu o troco. Era um Ser além da mesquinhez das rotinas cotidianas, interessava-lhe mais o alto espírito.

A terrinha de nome Cotia não queria bem ao seu poeta...

Após a perda da sua amada Sofia o poeta decidíu sair de São Paulo e escolheu o Rio de Janeiro; em 1915 foi nomeado Promotor Público para a comarca de Cantagalo. Entretanto, tentara, sem êxito, uma cadeira na Academia Brasileira de Letras por três vezes; no mês da inauguração do Teatro Trianon a Companhia de Cristiano de Sousa levou à cena a peça cepelliana Maria Madalena tendo feito onze apresentações, incluindo um festival de homenagem ao poeta-dramaturgo agendado para o dia 10 de Maio... que não aconteceu.

Maneco estava longe da família.

Em toda a sua Obra não há referências profundas aos laços familiares, a pouca coisa que se consegue tem relação com seus pais.

Maneco foi aquele menino que deambulava como um louco, assim parecia acreditar o delegado policial, pela vila de Cotia. Era sua fuga à mediocridade social que faz(ia) o cotiense esquecer que Cotia existe e que, apesar da proximidade com a Sampa, evita(va) o contato com o progresso. Não sou bugre. Não gosto de caipirismo!, a famosa expressão cepelliana recordada sempre entre os poucos amigos, foi a imagem gritada do mais profundo desprezo que ele tinha pela cotiazinha do meio do mato. Desde menino a sua inteligência provocava incompreensões, invejas. Maneco iria sair dessa proximidade com o rural estagnado tão logo tivesse oportunidade: uma delas foi a Força Pública, onde chegou a capitão, e outra, o curso de Direito; e, entre ambas, a Escrita. Maneco não cabia naquela Cotia, nem a família era o suficiente para o manter ali. A paixão pela sua amada Sofia ainda seria o único meio de o fazer permanecer na Sampa, tão próxima a Cotia. Mas o seu fado era outro... A morte da amada, envolta ainda na trágica cena do suicidio do pai, fez Baptista Cepellos abandonar a terra paulista.

E fez a sorte entre os cariocas. Maneco se fez grande entre os grandes na sua teimosia de ser um só pela sua liberdade de criador. Mesmo terrivelmente míope como era, escrevia e lia, escrevia e lia. O mundo lhe era muito pequeno, e por isso ainda colaborava em jornais e revistas, mas não frequentava as capelas intelectuais.

Na realidade, para Maneco não existia nem família nem amigos. Existia ele - Manoel Batista Cepêlos, que assinava Baptista Cepellos. E pronto. Se alguma vez pensou em família e em deixar de ser o só, isso aconteceu nos braços da amada Sofia.

Nas suas atribulações de homem público e escritor, Baptista Cepellos percorria o Rio de Janeiro com muita dificuldade. Era míope mesmo...

Na noite de 7 para 8 de Maio, naquele ano de 1915, o poeta foi encontrado mutilado no fundo de uma pedreira no morro Nova-Sintra, no fundo do terreno da casa 119 à Rua Pedro Américo.

A notícia correu ainda no raiar da manhã carioca: o poeta-dramaturgo paulista que tem peça no Teatro Trianon não vai mais ser homenageado!

Maneco é morto, souberam depois os familiares e os amigos de São Paulo e de Cotia.

Pela própria Escrita Cepelliana desenvolvida após a morte da amada Sofia alguns amigos e escritores imaginavam o suicídio... O comissário Thibau, do Sexto Distrito, afirmou que foi suicídio, mas o inquérito policial foi rapidíssimo e, talvez mais rápida ainda, a conclusão! Pior: logo de seguida o corpo foi enterrado no Cemitério de S. Francisco Xavier, na Quadra 51 tendo a sepultura 84.772 -, assim o diz(ia) o assentamento na folha 162 de 1915. O poeta míope

não estaria deambulando quando se sentíu pedreira abaixo?... Maneco aguentou quase 10 anos o pesadelo da perda da amada Sofia, e estava vivendo o apogeu de uma fama pública que só os cariocas lhe deram. Sentia-se justiçado. Era o escritor e o seu público, de mãos dadas. Por que suicídio?

Pouco tempo depois, os restos mortais de Baptista Cepellos foram lançados em vala comum. Nem a família nem os amigos quiseram saber de Maneco...

E muito menos a terrinha, aquela Cotia!

Baptista Cepellos agora é nome de ruas, de escolas, biblioteca, tem até busto na frente do Paço Municipal de Cotia. Mas na terrinha que o víu nascer pouca gente sabe quem foi Maneco...

Baptista Cepellos
O poeta do drama brasileiro
por João Barcellos

 

 


 
   

Idealizado por:
CRISTINA OKA & AFONSO ROPERTO©
Última atualização: 15 February, 2002