trabalho
publicado nos jornais da região cotiense
celebrando os 100 anos d'A Derrubada
e os 90 anos d'Os Bandeirantes
A ATUALIDADE ECOLÓGICO-POÉTICA
DO POETA DE COTIA
O fogoso Séc 19 trouxe à luz
dos tempos modernos a possibilidade de várias estéticas se
fundirem nos traços sutis da poesia, principalmente quando
essa escrita tem cunho socialmente forte.
Falando dos interiores da Língua
lusa que suporta a Cultura brasileira, o repórter JB
deu um giro no tempo para um encontro com o poeta Baptista
Cepellos, na velha Acutia carijó.
No seu Os Escravos, o
grande Castro Alves canta que Na terra o teu fadário
/ É ser o irmão do escravo que trabalha; pela mesma época,
o poeta cotiense Baptista Cepellos escreveu que Depois
que tudo se acaba,/ Tudo começa de novo!... Um cantar
ousadamente ecológico para a época, apesar do realismo e das
teorias de evolução humana em curso.
Este é o poeta da boca-de-sertão
que o repórter JB provoca fazendo-o baixar para encanto
dos espíritos de hoje...
JB - Há muita gente enchendo
o saco com essa de ecologia. Assim, sem mais nem menos. Qual
é a sua interpretação face aos berros ecológicos de alguns
políticos e artistas?
BC - Tudo tomba, afinal.
Da viride floresta, nada mais, nada mais senão escombros,
resta!
JB - Ai é...
BC - E, lá na roça, entre
um barulho agreste, a terrível queimada principia...
JB - Interessante. Parece-me
que você e a floresta são a mesma coisa. Será?... Bom, parece-me
que você está olhando tudo como uma prece final, sob a fresca
de uma árvore!
BC - Aquela triste árvore
eleva os galhos secos para a treva, no desamparo de uma Cruz!
Diante da religiosidade das últimas
palavras, entende-se o vórtice social que levaria Baptista
Cepellos a escrever Maria Madalena, uma peça para
teatro cujo sucesso carioca o acompanharia, depois, no afago
da Morte.
O jovem brasileiro de Cotia
conheceu a ferocidade social ainda menino, e depois como capitão
da guarda, recusando-se a ser um simples religioso: fez-se
cristão a pulso, subindo degrau a degrau a escadaria social
e psicológica do cotidiano como que à sombra do Grande Arquiteto
cósmico; e tão profundo foi esse aprendizado que, cantando
A Velha Escola, não escondeu a sua naturalidade romântica:
As aves, no seu lânguido estribilho,/ Ensinaram-me tudo.
Um autêntico aprendiz do evolucionismo (recordemos A Derrubada
e Os Bandeirantes) no feitiço fantástico das coisas
vivas - ou, o homem entre o povo sofredor, aquele que se sente
escravo pela proximidades dos escravos...
JB - Você é um homem que,
como escreveu Afonso Schmidt, foi criado na vida
singela dos caminhos (...), das casas de taipa e dos carros
de boi. Podemos entender, então, que Baptista Cepellos
é o homem da Natureza, o defensor da Gaia, o poeta dos simples,
o poeta...
BC - ...bêbado de verdura!...
JB - Ai é...
BC - ...Tão verde que
a visão de outras cores se perde, e a pedra, o rio, o sol,
tudo parece verde, e o nosso coração como que se balança por
sobre o verde mar de uma nova esperança!
JB - Puxa! Bebo dessa
sua poética como se fôra cachaça pura! Coisa brava e pura
e boa, sim. Lembra-me algo de Pessoa, de Lorca,
de Santo Agostinho e de António, como de Cruz
e Sousa ou de Castro Alves, ou ainda, de Solano
Trindade. Êta coisa boa! Coisa de sempre...Sua alma é
um cântico da Existência, víu. E a espiritualidade que escapa
nas entrelinhas vem (atrevo-me a dizer) desse profundo espírito
que sabe de tudo e do mal humano. Hum, e por isso você se
entende com a simplicidade do povo. É isso, víu. É isso: você
sempre cantará o povo. Ou não?
BC - En cantarei uma canção
veemente, em que viva e palpite a grande alma do povo!
JB - Ontem, você viveu
a Cotia que era a velha Aldeia Acutia ainda com traços
deixados pelos caras da nação Carijó, assim como em Carapicuiba
e Embu, embora já a tivessem mudado de lugar. Ah, e ali na
que é hoje a Praça da Matriz você gostava de escrever versos
na terra. Eh, ao pó retornamos ainda vida... Bom, deixemos
o filosofar e vamos aos finalmente...
BC - ...?!
JB - Não se espante, cara.
Coisas de repórter que também já víu muita coisa... Você gostaria
de dizer algo às gentes da Cotia? Alguma lembrança...
BC - ...achei nada valer,
nesta existência nula, capitanear um povo ou cingir a cogula,
pois tudo se reduz a uma pleja inglória, na chata insipidez
desta vida ilusória!
JB - ...?!
BC - Mas, como enclausurar
o pensamento humano que nos crava no peito a flecha da amargura
e é donde nos provém a maior desventura?! Sistemas, religiões,
filosofia louca!... O homem, que já cansou em meio da jornada
e nada mais espera e nem deseja nada, com grande placidez
no semblante e no gesto deve os olhos volver para um ideal
modesto, colimando uma luz, que lhe sirva de norte...
JB - Agradeço-lhe a gentileza
das palavras e, particularmente as últimas, pois tem muita
gente à deriva na sua velha Cotia! Talvez agora entendam que
a Luz é coisa íntima e que têm de buscar o norte em si mesmos!
(entrevista montada com poesia
e prosa cepelliana publicamente conhecidas através dos livros
editados)
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