ROMARIA & CAUCAIA
ELZA TASHIRO
Mikio Tashiro | Elza Tashiro |
Mauro Tashiro - Rosely Tashiro |
Dna Elza foi uma das mulheres que marcaram sua passagem na Romaria. Nasceu em Ourinhos, em 10/ 05/1934.Uma das primeiras mulheres a participar de bicicleta (1962, com a Cida do Mitiko), foi uma pedestre ativa e que levava a bandeira do segmento até 1997. Foram doze anos indo à romaria de bicicleta e 22 anos à pé, initerruptamente. Quando ela começou sua jornada romeira, Dito Lopes era o presidente (a rodoviária de Caucaia leva o nome de Benedito Lopes). Ela é de uma época em que os romeiros faziam realmente grandes sacrifícios para participar. Muitos não tinham dinheiro para pagar a hospedagem nem a alimentação, dormiam em qualquer lugar e levavam a comida de casa. Já mais tarde, casada e com filhos, sofreu uma luxação grave no pé antes da romaria (ia como pedestre); pois com fé, sem atender aos pedidos da família que engessasse, e se tratando em casa com lâmpada emprestada por amigos e muitos cuidados, con-seguiu se recuperar a tempo para poder ir à pé. Dizia a si mesma "se Bom Jesus quiser que eu vá, vai me curar...". E assim foi.
Dna Elza é casada com seo Mikio, pessoa que conhece muito da Caucaia Antiga. Quando eles se conheceram, ele descia a estrada de terra dos Grilos com o caminhão de lenha do Mimi (Benedito Manoel de Oliveira), buzinando desde cima, pra ela sair para pegar a carona até o curso em Cotia. Às vezes eles seguiam reto para SP, para entregar lenha e passear. Quando o jovem Mikio, um namorador convicto, ia fazer a corte com dna Elza na casa do pai dela, os dois ficavam conversando até que a jovem ia dormir e deixava os dois lá namorando, envolvidos com a prosa. Muitas vezes Mikio saía tarde da casa da namorada, e tinha que voltar para a casa (morava com Mimi, na bifurcação da estrada dos Grilos com a Cachoeira), subindo o morro na estrada de terra, altas horas da madrugada. Quando ele ficava cansado de subir, dormia no coreto em frente da igreja. Uma vez, quando resolveu subir, na bifurcação dos Grilos com a estrada do Pununduva, ele viu uma assombração, essas estórias do mato. Um enorme cachorro preto ficou olhando pra ele, que desceu rápido e reto, em direção ao Mimi. Pois no meio do caminho, sem que ele tivesse percebido passar por si, estava de novo o cachorrão preto olhando pra ele. Jovem e sem medo, só pensando na namorada, ele foi pra casa dormir.Como Mikio chegou em Caucaia
Nascido em Iguape em 23/06/1920, o jovem Mikio foi um viajante por esse mundão que era São Paulo naquela época. Orfão cedo de mãe e pai, viveu em sítio em Ferraz de Vasconcelos e depois veio morar com cunhado entre Itapecerica e Embú, num mato para fazer carvão (1932) Naquele tempo até tentou fazer um esforço danado pra estudar, mas a escola era longe, não tinha sapato, tinha frio e pouca roupa, a barriga vivia roncando. Desistiu de estudar e quando o mato pro carvão acabou, foram morar em Itacoaciara nos fundões de Itapecerica(o P-13 do ramal fer-roviário) 1. Quando matavam um boi uma vez por semana na região, ele ia a cavalo buscar 1 kg de carne atravessando grandes pastos, muitas vezes cheios de boi. Passava um medo danado. Depois foi morar perto de São Bernardo, direção da Serra do Mar (Rio Grande da Serra), na fazenda Zandalá (1936). Voltou a Santo Amaro onde tinha algum parente e acabou indo trabalhar como ajudante de Chico Murakawa, que na época tinha um mato também em Santo Amaro, donde extraía carvão. Quando acabaram os matos de lá, Murakawa-san vinha buscar carvão em Caucaia, mas achava longe. Seo Mikio conheceu Caucaia em 1938. Veio morar aqui em 1939, com seo Chico Murakawa, na casa do Chico Nunes 2, alugada por 50 mil réis, negócio feito entre os Chicos quando " conversa de homem valia como documento ", diz Mikio. Assim, conheceram a vila, e seo Chico comprou um matão para fazer serraria e carvoaria. Era no bairro dos Pinhos, onde 17 alqueires custaram 6 contos de réis. Até lá só tinha uma trilha, eles tiveram que abrir 4 kms de estrada na enxada. Dez metros de lado a lado foram também comprados, beirando a trilha, para derrubar as árvores e abrir caminho para a estrada secar. Eram tempos de desbravamento. Mikio lembra-se em 1940 quando a diretoria da CAC comprou as terras do Francisco Nunes, para fazer um galpão de armazenamento dos cooperados. Pagaram 25 contos naquele tempo. Até então, uma vez por semana, toda quinta-feira, vinha o caminhão da CAC de SP buscar as mercadorias agrícolas cultivadas em Caucaia. O caminhão ia parando nos ranchinhos de barro na beira da estrada, cobertos com sapé, onde o pessoal da roça deixava sua produção, com uma bandeira branca escrita CAC pendurada. Ninguém mexia, ninguém roubava. O ponto final do caminhão da CAC era nas terras do Mimi (que juntava a produção do pessoal dos Grilos e Cachoeira). Mikio nota que até 1946/7 deu carvão, depois o mato acabou. Então passaram a plantar batata, to-mate, abobrinha. Quando, mais tar-de, acompanhava Roque Celestino Pires como aju-dante no caminhão para a carga dos produtos de Chico Murakawa para SP, sofreu os revezes da guerra: como tinha sido roubado o documento de bras-ileiro que ele era, Mikio er a polícia e teria que apresentar documentos (japoneses e italianos não podiam entrar em SP sem autorização), subia pela trilha de cima e ia andando encontrar Roque mais adiante (descendo depois do que é hoje o Procotia). Tempos difíceis, esses de guerra, em que o preconceito virou marca na pele e alma de muitos imigrantes que viveram aquela época. Seo Mikio lembra-se de um sensei aqui de Caucaia, professor da primeira escola japonesa, Hamazaki-san, que teve a escola fechada por ser denunciado como japonês. Eles queimavam os livros e não podia falar em japonês. Depois foi trabalhar com Mimi, levando carregamentos de lenha até duas vezes por dia pra SP e morava lá com ele. Foi quando começou a namorar Elza. Uma vez Mikio comprou uma máquina de costura pra dar pra Elza, que estava largada na casa do Mimi. Para levar até a vila, pediu carona pro padeiro, que vinha de Osasco uma vez por semana, e que tinha como ponto final de entrega dos pães a casa do Mimi. Lembra-se de show de Tonico e Tinoco no coreto que existia defronte à Igreja, em que os festeiros de São José eram Paschoal e Dito Lopes. Tentou depois por um tempo o comércio num armazém 3, mas acabou vendendo pro Avelino Albuquerque fazer seu bar (que existe até hoje), já que estava desanimado com as dívidas e o fiado. Foi então convidado pra ser Juiz de Paz (1957) e também trabalhava seu Aero Willys como táxi; mais tarde comprou a barraca da COAB do Zequinha Lopes (1964).
Idealizado por:
CRISTINA OKA & AFONSO
ROPERTO©
Atualizado em 18 September, 2000