Não existem caminhos.
Cada movimento deve ser conquistado a golpes afiados que dilaceram
a vegetação, derrubam as feras, sangram os que atrevem
a enfrentá-los.
Os paulistas estão penetrando por um mundo selvagem. O
menor descuido e a vegetação pune, a fauna agride,
o inimigo mata. Mas eles não param. Uma luta a cada palmo,
esses homens progridem sempre.
Avançam em busca da fortuna em ouro, prata ou índios
para escravizar. Avançam para combater os espanhóis,
derrotá-los, desalojá-los. Avançam na aventura
de descobrir novos lugares, devassar novas florestas. Avançam.
Atrás deles ficam as rotas abertas, o verde vencido, a
terra mansa. Um passo à frente e o País cresce mais
um metro. Aonde vão, os homens levam consigo os limites
da terra brasileira. No seu percurso, as fronteiras desabem. Longo
e árduo trajeto espera uma bandeira. Mas, qualquer que
seja seu rumo, é quase sempre em São Paulo que os
caminhos se iniciam.
Da pequena vila no planalto de Piratininga, partem e chegam as
bandeiras. Quando retornam, trazem consigo índios apresados,
a experiência do sertão desbravado, o cansaço
das longas caminhadas, histórias de muitas lutas que tiveram
de vencer para continuar vivos. Mas nem todos vencem sempre, e
a bandeira traz também notícias de mortes. Por isso,
o regresso é bem diverso da partida, que é toda
feita de esperança.
Bandeirante brasileiro (Beja de São Miguel, Alentejo, Portugal,
c. 1598 São Paulo, 1658).
Fixou-se em São Paulo em 1622, quando o pai assumiu o cargo
de capitão-mor e governador da capitania de São
Vicente. Empenhou-se em assegurar a posse das terras dos atuais
Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e
Mato Grosso, ocupadas então pelas reduções
jesuíticas. Partindo de São Paulo em 1647, pôs-se
à frente da chamada bandeira dos limites, que foi até
a Amazônia, retornando a São Paulo em 1650, num périplo
superior a 12.000km, a maior de todas as expedições
de reconhecimento geográfico realizadas no Brasil.